Diante da tela do PC eu contemplava um convite para um encontro. Nele constava que no segundo final de semana de julho ocorreria o “Só para loucos” em Jaguarão. Este evento é organizado pelos amigos Segóvia e Didi e, amplamente divulgado, pelo querido amigo Miotto. Na cabeça havia outro compromisso, mas resolvi adiá-lo. Em minha frente havia duas possibilidades: uma com meio litro de potência e outra com um oitavo de litro. Diriam que se escolhesse a menor potência para fazer a viagem certamente seria louco por abdicar do conforto e robustez de uma moto maior, além de, ter que suportar por mais tempo a viagem na baixa temperatura prevista para o clima daqueles dias. Foi esta mesmo que escolhi. Deixei o conforto de lado e preferi prolongar a viagem. Já não colhia o vento em um prazeroso percurso, mas tocava o céu. A felicidade já não cabia no peito em desfrutar a estrada mais uma vez. Queria deixar para traz a hipocrisia, reprovações e desacertos presentes no mundo e ficar bem perto da amizade. Enquanto o corpo era sacrificado pelo frio intenso meu sorriso enchia o rosto e partia meus lábios, queimados pelo rigor do inverno. Quando parei de sentir as mãos e elas viraram apenas dor, encostei a moto e as aqueci enquanto ligava e avisava os loucos amigos de minha partida. Agora não tinha volta, estaríamos juntos certamente, fé em Deus. Os motociclistas já passavam por mim no caminho e eu cada vez mais ansioso. Quando lá cheguei estavam os velhos amigos e os novos também. Já de cara vi o Nike, o Cubija, o Sombra e esposa, o querido Índio Estradeiro e também o Gabo, tava o Capincho e seu guri e com os peitos estufados de alegria o Segóvia e o Didi.
Já fui dando jeito de armar a barraca e tentando guardar um lugarzinho pro Tonsor, pois o pessoal me informou que ele não havia chegado ainda. Da última vez que nos falamos, ele havia me dito que iria desde sexta-feira, queria aproveitar bastante. Enquanto hasteava nossa bandeira, ele chegou. Chegavam também o Mário, aquele mesmo, o Nelson Goulart e a Débora além de muitos, muitos amigos uruguaios. Aquele bom papo rolava e a organização ou, como o Didi prefere, a “desorganização” nos faz uma surpresa, deixa o Capincho encarregado do almoço e quando nos chama, apresenta um carreteirão de carne de ovelha com galinha que estava demais da conta. Para fazer a digestão eu e o Tonsor vamos dar uma volta, vemos umas peças e depois fazemos uma visitinha ao Uruguai, é impossível ir a Jaguarão e não dar um abraço nos “hermanos”. Retornando, o friozinho já tomava conta. Preparamos um mate pra manter a garganta quente e a tradição viva. Conhecemos a moto nova do Serginho, uma big trail de respeito, perfeita para as pretensões de seu dono, parabéns amigo, aproveite com gosto e conosco. Além dela admirávamos também a quantidade de motos que estavam lá, pois o Segóvia sempre diz que faz o evento para os verdadeiros amigos. Estávamos impressionados porque eram muitos! O forte frio e a geada não assustavam. Nisso o Miotto me aborda, queria me dar o atestado. Eu perguntei: “Mas qual Miotto?” Ele me responde: “ O de loucura meu amigo.” Assim fui atestado como louco junto com muitos outros que estavam ali, entre eles o Eltinho, o irmão do Dalmirinho. É, depois de muita promessa, enfim, ele estava conosco. O que interessa é que a festa se encha de loucos. Feliz da vida, nos reunimos no salão do evento, porque o jantar se aproximava e o rock in roll também. Lembrei do Serginho e desta vez fui preparado, estava com o “kit de sobrevivência” na mão e não teve aperto, foi uma forma de ajudar os organizadores com os aparatos do jantar e é pelo menos, menos uma coisa pra lavar. Depois de mais um jantar louco de bom, foram entregues os troféus e lá fomos eu e o Tonsor receber o nosso, sempre vamos juntos pois somos unidos pela máquina. Orgulhosos pelo carinho dos amigos de Jaguarão, curtimos a música entre os irmãos. Nisso acontece uma surpresa, algo misterioso adentra o salão e trazido por uma moto ao palco sobe e com movimentos sensuais e gritos de tira a roupa dá início a uma intrigante apresentação. Cai a capa e me horrorizo com os gritos de um amigo de outro moto grupo que dizia “eu assumia, eu assumia.” Perante o exposto e sabendo o mesmo que todos que estiveram lá sabem tenho só uma coisa a dizer baseado nas palavras daquela sábia “Véia”: “gosto é gosto...”e pronto. Cada um deve ser feliz ao seu jeito e como lhe convir desde que não prejudique ninguém. Hahahahaha! Em meio a este festerê ainda vejo o amigo Bruno que curtia sua paixão. Curto uns vídeos de extreme junto com os amigos Romeu, Lazareno e Canibal. O frio assolava. O Silvano convida para um mate a beira do fogo do chaleirão instalado na rua, a nós, se juntam o Segóvia mais o tio CBzeiro de Pelotas mais uns castelhanos e a noite vai passando devagar, o frio nas orelhas gelava a nuca, a geada apontava nos assentos das motos, o sono já batia e eu já me recolhia nos “dorme-sujos” da vida enquanto ouvia os gritos felizes pela vitória de um brasileiro sobre um arrogante americano que o provocava. Era briga, era vale-tudo. Triste era sentir uma forte vontade de ir ao banheiro em meio à madrugada e ter que pisar na geada para poder aliviar. Bom não dá nada o negócio era voltar e dormir. Dia amanhecendo era hora de partir. O Nelson me chama para ver o gelo e registrar o momento, depois desarmo, arrumo tudo e coloco na moto, me despeço de todos e abro novamente meu sorriso, pois o último suspiro de loucura atingiu meu amigo Tonsor que correu pelado e gritando com a touca ninja na cabeça por todo acampamento. Nem só de ignorância vive o homem mas de inteligência também. Inteligência é escolher estar no seio da amizade sem interesse algum, deixando um mundo ilusório para traz. É ter fé, aceitando Deus em sua garupa e o que Ele te reservar sem reclamar. É amar o vento e a liberdade proporcionados pela moto. Respeitar os outros e vê-los como irmãos. É seguirmos juntos numa mesma estrada atrás de um horizonte sem fim. É estarmos loucos e felizes por estarmos aqui, compartilhando é claro, uma mesma paixão. Sejamos insanos então, como meus grandes amigos Segóvia, Miotto e Didi que estão de parabéns por sua maravilhosa festa e por nos levar a um saudoso delírio. Pessoas comuns enxergam uma moto, eu como sou louco, vejo um novo mundo.
Vandres/Japa Galeiro – Moto Grupo Unidos pela Máquina e Galeiros Brasil.
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http://inema.com.br/mat/idmat122577.htm
Moto Taubaté
http://www.mototaubate.com.br/mototaubate/Pagina.do?idSecao=65&idNoticia=79320
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