terça-feira, 10 de julho de 2012

3ª Moto Acampada Só para Loucos

Diante da tela do PC eu contemplava um convite para um encontro. Nele constava que no segundo final de semana de julho ocorreria o “Só para loucos” em Jaguarão. Este evento é organizado pelos amigos Segóvia e Didi e, amplamente divulgado, pelo querido amigo Miotto. Na cabeça havia outro compromisso, mas resolvi adiá-lo. Em minha frente havia duas possibilidades: uma com meio litro de potência e outra com um oitavo de litro. Diriam que se escolhesse a menor potência para fazer a viagem certamente seria louco por abdicar do conforto e robustez de uma moto maior, além de, ter que suportar por mais tempo a viagem na baixa temperatura prevista para o clima daqueles dias. Foi esta mesmo que escolhi. Deixei o conforto de lado e preferi prolongar a viagem. Já não colhia o vento em um prazeroso percurso, mas tocava o céu. A felicidade já não cabia no peito em desfrutar a estrada mais uma vez. Queria deixar para traz a hipocrisia, reprovações e desacertos presentes no mundo e ficar bem perto da amizade. Enquanto o corpo era sacrificado pelo frio intenso meu sorriso enchia o rosto e partia meus lábios, queimados pelo rigor do inverno. Quando parei de sentir as mãos e elas viraram apenas dor, encostei a moto e as aqueci enquanto ligava e avisava os loucos amigos de minha partida. Agora não tinha volta, estaríamos juntos certamente, fé em Deus. Os motociclistas já passavam por mim no caminho e eu cada vez mais ansioso. Quando lá cheguei estavam os velhos amigos e os novos também. Já de cara vi o Nike, o Cubija, o Sombra e esposa, o querido Índio Estradeiro e também o Gabo, tava o Capincho e seu guri e com os peitos estufados de alegria o Segóvia e o Didi.

Já fui dando jeito de armar a barraca e tentando guardar um lugarzinho pro Tonsor, pois o pessoal me informou que ele não havia chegado ainda. Da última vez que nos falamos, ele havia me dito que iria desde sexta-feira, queria aproveitar bastante. Enquanto hasteava nossa bandeira, ele chegou. Chegavam também o Mário, aquele mesmo, o Nelson Goulart e a Débora além de muitos, muitos amigos uruguaios. Aquele bom papo rolava e a organização ou, como o Didi prefere, a “desorganização” nos faz uma surpresa, deixa o Capincho encarregado do almoço e quando nos chama, apresenta um carreteirão de carne de ovelha com galinha que estava demais da conta. Para fazer a digestão eu e o Tonsor vamos dar uma volta, vemos umas peças e depois fazemos uma visitinha ao Uruguai, é impossível ir a Jaguarão e não dar um abraço nos “hermanos”. Retornando, o friozinho já tomava conta. Preparamos um mate pra manter a garganta quente e a tradição viva. Conhecemos a moto nova do Serginho, uma big trail de respeito, perfeita para as pretensões de seu dono, parabéns amigo, aproveite com gosto e conosco. Além dela admirávamos também a quantidade de motos que estavam lá, pois o Segóvia sempre diz que faz o evento para os verdadeiros amigos. Estávamos impressionados porque eram muitos! O forte frio e a geada não assustavam. Nisso o Miotto me aborda, queria me dar o atestado. Eu perguntei: “Mas qual Miotto?” Ele me responde: “ O de loucura meu amigo.” Assim fui atestado como louco junto com muitos outros que estavam ali, entre eles o Eltinho, o irmão do Dalmirinho. É, depois de muita promessa, enfim, ele estava conosco. O que interessa é que a festa se encha de loucos. Feliz da vida, nos reunimos no salão do evento, porque o jantar se aproximava e o rock in roll também. Lembrei do Serginho e desta vez fui preparado, estava com o “kit de sobrevivência” na mão e não teve aperto, foi uma forma de ajudar os organizadores com os aparatos do jantar e é pelo menos, menos uma coisa pra lavar. Depois de mais um jantar louco de bom, foram entregues os troféus e lá fomos eu e o Tonsor receber o nosso, sempre vamos juntos pois somos unidos pela máquina. Orgulhosos pelo carinho dos amigos de Jaguarão, curtimos a música entre os irmãos. Nisso acontece uma surpresa, algo misterioso adentra o salão e trazido por uma moto ao palco sobe e com movimentos sensuais e gritos de tira a roupa dá início a uma intrigante apresentação. Cai a capa e me horrorizo com os gritos de um amigo de outro moto grupo que dizia “eu assumia, eu assumia.” Perante o exposto e sabendo o mesmo que todos que estiveram lá sabem tenho só uma coisa a dizer baseado nas palavras daquela sábia “Véia”: “gosto é gosto...”e pronto. Cada um deve ser feliz ao seu jeito e como lhe convir desde que não prejudique ninguém. Hahahahaha! Em meio a este festerê ainda vejo o amigo Bruno que curtia sua paixão. Curto uns vídeos de extreme junto com os amigos Romeu, Lazareno e Canibal. O frio assolava. O Silvano convida para um mate a beira do fogo do chaleirão instalado na rua, a nós, se juntam o Segóvia mais o tio CBzeiro de Pelotas mais uns castelhanos e a noite vai passando devagar, o frio nas orelhas gelava a nuca, a geada apontava nos assentos das motos, o sono já batia e eu já me recolhia nos “dorme-sujos” da vida enquanto ouvia os gritos felizes pela vitória de um brasileiro sobre um arrogante americano que o provocava. Era briga, era vale-tudo. Triste era sentir uma forte vontade de ir ao banheiro em meio à madrugada e ter que pisar na geada para poder aliviar. Bom não dá nada o negócio era voltar e dormir. Dia amanhecendo era hora de partir. O Nelson me chama para ver o gelo e registrar o momento, depois desarmo, arrumo tudo e coloco na moto, me despeço de todos e abro novamente meu sorriso, pois o último suspiro de loucura atingiu meu amigo Tonsor que correu pelado e gritando com a touca ninja na cabeça por todo acampamento. Nem só de ignorância vive o homem mas de inteligência também. Inteligência é escolher estar no seio da amizade sem interesse algum, deixando um mundo ilusório para traz. É ter fé, aceitando Deus em sua garupa e o que Ele te reservar sem reclamar. É amar o vento e a liberdade proporcionados pela moto. Respeitar os outros e vê-los como irmãos. É seguirmos juntos numa mesma estrada atrás de um horizonte sem fim.  É estarmos loucos e felizes por estarmos aqui, compartilhando é claro, uma mesma paixão. Sejamos insanos então, como meus grandes amigos Segóvia, Miotto e Didi que estão de parabéns por sua maravilhosa festa e por nos levar a um saudoso delírio. Pessoas comuns enxergam uma moto, eu como sou louco, vejo um novo mundo.



Vandres/Japa Galeiro – Moto Grupo Unidos pela Máquina e Galeiros Brasil.

Links:

Inema
http://inema.com.br/mat/idmat122577.htm

Moto Taubaté

http://www.mototaubate.com.br/mototaubate/Pagina.do?idSecao=65&idNoticia=79320