Todos nós, um dia,
passamos por uma prova de fogo. Comigo não poderia ser diferente. Não sei se
era necessário, se o universo conspirou contra mim ou o quê, somente sei, que
foi assim. Mas nesse âmbito não importa, o que importa é a emoção, a solidariedade
dos amigos, a compaixão em si e a alegria em estar bem, sãos e salvos. Foi uma
semana de ansiedade. Havia viajado muito pelo asfalto e estava com saudade de
uma terrinha, estava com vontade de pilotar a velha XLX. Revisões, preparativos
com a bagagem, aquele trato na nega véia, era chegada a hora de partir.
Estradas em boas condições, a diversão chegava só lá pela Usina de Candiota,
que por conta da pedreira, tornava o caminho bem difícil. Caminho interessante,
até XLX triciclo vi por lá. Asfalto atingido, era hora de acelerar! Tudo
revisado na parada do posto do trevo de Candiota, seguimos nosso percurso.
Viagem maravilhosa, até que, bem próximo a Bagé, talvez nem faltando 15kms,
ouço um grande estouro na parte traseira da moto, algo realmente forte, que
chegou a vibrar o chassi... Assustei-me e rapidamente olhei pra trás ainda pude
ver o saco de dormir e a barraca caindo em chamas, foi uma grande fumaceira na
área do escape, pensei que a moto tivesse fundido ou o pneu estourado e
estraçalhado o alforge, mas vi que o motor funcionava perfeitamente e o pneu
intacto. O que poderia ter sido? Consegui parar a moto de pronto, a Simone
apagava as chamas do alforge enquanto eu corria pra tirar as coisas que ficaram
espalhadas pelo asfalto para tentar evitar que ocorresse um acidente naquele
local. Enquanto os motociclistas paravam, eu confirmava que estava tudo bem.
Não havia muito que eles pudessem fazer, era com a gente mesmo. Era triste ver
tudo queimando, mas ao mesmo tempo dava um grande alívio por estarmos bem e a
moto de pé. Graças a Deus, o último motociclista que parou me prestou uma
grande ajuda, pois o fogo de nossos pertences acabou incendiando o acostamento
e se não fosse o nosso trabalho em equipe poderia haver até um desastre
ecológico, deixo meu muito obrigado ao motociclista Chico lá de Pinheiro
Machado. Tudo sob controle, deixei o Chico seguir. Tudo o que era nosso estava
espalhado pelo acostamento(algumas coisas ainda queimando como: toalha, barraca
e o saco de dormir) a Simone horrorizada com o ocorrido, a moto toda
chamuscada, uma grande fumaça na beira da estrada... Bem triste mesmo a cena. Só
me perdoem não tive espírito pra tirar fotos, é sempre melhor não eternizar
momentos ruins para simplesmente eles terem fim. Enquanto ia reunindo o que foi possível salvar,
o Eduardo, que já estava no evento desde sexta-feira, sentiu nossa demora e me
contatou, expliquei a ele o caso e deixei-lhe a incumbência de nos auxiliar com
a estadia. Nisso, encontro algo no chão: a garrafa do reparador de pneu. Estava
muito avariada e sem conteúdo, praticamente irreconhecível. Acredito que, o que
ocasionou a explosão, por conta da grande trepidação na estrada de terra(o que
deve ter agitado muito o recipiente), somando o calor do sol(pois os alforges
são pretos) e mais o calor do escape, foi este dispositivo. Não sou
especialista, mas na minha opinião, como seu conteúdo está sob pressão, o agito
e o calor o fizeram estourar e romper o alforge, fazendo com que a borracha
líquida atingisse o escape incendiando tudo. Fica meu alerta, tenha muito
cuidado ao carregar esse recurso, ele tem que se manter frio. Depois que juntei
tudo e enquanto olhava com tristeza o assento, a lateral e parte da traseira da
XLX destruídas, minha maior dúvida era como levar o que restou na moto...
Peguei minha faca e cortei uma parte queimada do alforge que atrapalharia sua
sustentação, suas amarras estavam intactas, o que ajudou a recolocá-lo no
lugar, alguma coisa coube na mochila da Simone. Falando na Simone, tenho que
agradecer muito a ela pela coragem de me ajudar com o fogo na moto e salvar
algo de grande importância para mim de dentro do derretido alforge, o meu
chapéu. As coisas mudariam bastante sem ele, representou o nosso sucesso sobre
a adversidade. Tomei como um indício de que o sonho, não acabou. Assim
acionamos a pesada catraca da XLX e seguimos viagem. De ruim foi só isto,
quando chegamos tudo estava em festa, inclusive a gente. Nós e a XLX éramos o
assunto. O Eduardo nos esperava de braços abertos e já nos trouxe a solução
para a estadia: nosso amigo Adonaldo havia trazido a barraca e um colchonete
para nos acomodarmos! Grande Adonaldo, eterno amigo, obrigado. Depois de um
delicioso XIS frango e belas risadas proporcionadas por nossa querida amiga
Angélica, passeamos pelo evento, pela feira motociclística, pela cidade até nos
deitarmos na praça. Era bastante o cansaço. Tiramos foto do Nike, da Rose e
ainda deixamos o Romeu brabo. Quem devia ficar brabo era eu né Romeu, eu não te
vi no super mas me visse e nem beijinho me desse, hahaha! Deixa estar. Curtimos
as apresentações de competições de força entre atletas de Bagé e um belíssimo
show da Radical Moto Show, equipe Yamaha, com altas manobras em cima de motos de
alta cilindrada como a R1 e a Xj6. Encontramos o amiguinho Betão de Herval e
família, que curtiram o show com a gente. Fomos tomar um sorvetinho e nos
juntamos com a turma do Gayer e do Sabrito. Muitos amigos estavam lá. O Cabral
papeava, o Marcel tomava umas e o Bin nos matava a saudade. Ficamos ali até
anoitecer, quando com o Eduardo, decidimos curtir os shows de Rock, que estavam
de arrepiar. Destaco a banda “Sal na Lesma” e outra de vocal feminino que não
guardei o nome, que cantaram grandes clássicos do bom e velho, rock’n roll.
Tocou por lá também uma banda argentina muito bem falada mas nessa hora já
havia ido nanar. Ficamos nos galpões da Prefeitura e estava bastante animado
lá. E entre tratores e motosserras que era o que parecia o som dos roncos
motociclísticos, acordamos em uma linda e quente manhã de domingo. Novamente
arrumamos tudo como deu e iniciamos nosso retorno. Deixamos a barraca e o
colchonete do Adonaldo em sua casa e junto do amigo Edir nos despedimos de
Bagé. No trevo seguimos em direção à Candiota e o amigo Edir à Pantano Grande.
Pegamos um cafezinho no posto do trevo e seguimos pelo traiçoeiro atalho da
Usina. Paradinha na árvore do suco, refresco na casa da Aninha em Pedras Altas,
uma breve passadinha no rodeio, uma longa estrada de pó e forte sol até chegar
em casa. Uma prece para agradecer a Deus pela proteção, obrigado Senhor, um
parabéns ao pessoal de Bagé pela hospitalidade e descontração. Lindo e
maravilhoso evento!! Por mais traumática que a experiência poderia ter sido,
não foi. Pra mim, apenas valeu como ensinamento. O que absorvi, foi que
precaução nunca é demais, que motociclistas verdadeiros são irmãos e estão
sempre prontos pra ajudar, os que não estão apenas passam, que uma promessinha
pra encontrar as ferramentas vale a pena( né São Crespin? Encontrei todas!) e
que pra alegria de toda nação Xzeleira, a XL não é apenas uma moto que sobe até
paredes mas que também é a PROVA DE FOGO!!!
Vandres/Japa Galeiro –
Unidos pela Máquina e Galeiros Brasil.